Por que mesmo eu faria isso?
Mudar dá trabalho. Nossos hábitos formam aquilo que chamamos de "zona de conforto". Ali se encontra aquilo que conhecemos, o que já sabemos fazer, o que estamos acostumados e habituados. A zona de conforto é um lugar agradável para estar, já que não nos exige e poupa energia, além de trazer o óbvio conforto do conhecido.
Por outro lado, nada se aprende nesse lugar. Para mudar, precisamos sair da zona de conforto. Precisamos nos desafiar, ir além do conhecido, nos alongar. Claro, será desconfortável, vai gerar incômodo, vai consumir energia, pode até assustar. Mas se não fizermos isso, nada muda. Mesmo se ousarmos só um pouquinho, de nada adianta frente aos hábitos: em breve voltaremos ao conhecido, ao confortável. Então para gerar uma mudança duradoura, precisamos criar novos hábitos, saindo da zona de conforto de forma consistente. Mas isso dá trabalho.
Frente a essa realidade, que parece tão simples, muitos processos de desenvolvimento naufragam. O processo pode trazer novos conhecimentos, ensinar novas habilidades, mas não necessariamente vai gerar uma mudança duradoura. Precisamos aprender, depois por em prática e depois insistir, praticar, para finalmente incorporar a mudança. Como dá trabalho, é comum ver gente que adora o início do processo de desenvolvimento, se encanta pelos temas trabalhados, mas depois não mantém a prática e a novidade é esquecida. Qual foi o impacto daquele processo? Quase nulo.
Aí entra um fator chave para o sucesso de um bom desenvolvimento: a relevância. Em outras palavras, a importância que aquilo tem para merecer o trabalho que vai dar. Se você me pede para eu aprender algo novo, botar em prática e transformar em hábito, eu preciso responder claramente a seguinte pergunta: "por que mesmo eu faria isso?" Enquanto eu não perceber o valor que a mudança agrega, não vou mudar.
O dia a dia tem inúmeras desculpas para que eu não mude - todas muito boas e provavelmente todas verdadeiras. Posso escolher qualquer uma, ou uma boa combinação delas para justificar minha "falta de tempo" para fazer uma mudança. Afinal de contas, mudar dá trabalho. Todos nós passamos por isso: dia lotado de coisas, mal temos tempo para respirar - e ainda nos pedem para incorporar algo novo?
Entretanto, se enxergo o valor que a mudança me traz, arrumo tempo. É uma questão de prioridades. Cuido primeiro daquilo que parece mais importante naquele momento. Uso critérios de relevância para fazer escolhas - muitas vezes inconscientes. Ao perceber "que vantagem Maria leva", aquela novidade pode subir na hierarquia e virar prioridade.
Por isso a relevância é fundamental no processo de desenvolvimento. Por que aquilo é importante para mim? Por que eu me daria o trabalho de aprender, praticar, incorporar? Ao ter um bom motivo, uma boa razão, posso tudo - encontro tempo, energia e ousadia para seguir o processo.
Como diz um antigo ditado: aquele que tem um "porquê" consegue vencer quase todo "como". Traduzindo: aquele que tem um propósito vence as dificuldades que vão aparecer no caminho. Em cada processo de desenvolvimento, cabe a nós responder essa pergunta antes mesmo de começar: por que mesmo eu faria isso?