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Lições de Tony Bennett - Parte I: liderança profissional


Existe uma certa mágica que acontece em shows de música ao vivo. Por mais que a gente aprecie a música de algum artista na privacidade de nossa casa, nada se compara à energia da apresentação ao vivo. Eu considero isto tão especial que tento geralmente comemorar momentos de importância na minha vida com algum show de algum músico que considero icônico.


Assim, marcos importantes foram associados à shows memoráveis que assisti: U2, Yanni, Bocelli são alguns que nunca irei esquecer. Recentemente optei por Tony Bennett. Já faz algum tempo que tenho tido vontade de assisti-lo ao vivo, e sabia que não poderia esperar demais devido à sua idade avançada. Prometi a mim mesmo que iria assim que tivesse a oportunidade, pois não sei mais por quanto tempo teremos a honra de suas performances ao vivo - no momento que escrevo este artigo, ele está com 90 anos de idade.


No caminho do teatro, me lembro de minha batalha interna, um lado altamente entusiasmado e outro me segurando, como se dissesse “não espere muito, ele não tem a energia que tinha quando mais jovem, talvez a voz esteja fraca, talvez o show seja curto pois ele não deve aguentar tanto esforço; não espere tanto para não se decepcionar.”


E eis que entra no palco este senhor italo-americano e sua performance é invejável. Tenho certeza que o público esqueceu dos seus cabelos brancos e da sua idade, pois em nenhum momento apareceram. Naquele momento era o ícone Tony Bennett, com toda a sua aura gigantesca, no seu melhor. Cantou sem parar por duas horas, cobrindo a maioria das suas músicas mais famosas e eu não lembro de ter visto um público tão hipnotizado e encantado como nesse show.


Saí do espetáculo não apenas com uma apreciação maior ainda por ele como artista, mas com uma grande lição. Todos recebemos uma aula de profissionalismo.


Notei algo que nunca tinha visto antes. Na maioria dos shows as bandas começam com músicas médias e vão crescendo aos poucos, até atingir alguns pontos altos. Depois de cada ponto alto, é natural algumas outras músicas menos conhecidas para depois atingir outro ponto alto. Não foi assim com Tony.


Logo na primeira música ele começou com uma canção famosa que terminou com o ponto climático de sua voz explodindo no final, sendo ovacionado de pé pelo público. Daí eu pensei “ué, o show acabou já? Este grand finale não era para ser na última música”? Mas foi assim na música seguinte e na seguinte e na seguinte. Todas com final climático, todas com grand finale e todas recebendo aplausos em pé. Nunca vi isso acontecer antes. Nunca vi alguém ser tão ovacionado e comemorado a cada canção.


Podemos dizer que isso é fruto do amor que ele tem pela sua arte. Mas juntamos aqui amor e profissionalismo – pois a diferença dele é na execução. Ele não apenas canta uma música, ele interpreta, ele se entrega, ele dá ao público o máximo de si.


Eu vejo esta característica nos profissionais mais bem-sucedidos que conheci, sejam médicos, atletas ou empresários. Dos vários traços que eles tem em comum, um dos que mais me chama a atenção é a capacidade de overdelivery. O conceito de overdeliver tem a ver com a idéia de entregar além da média, ir além do esperado, é o tal do ‘encantar o cliente’.


O problema é que a maioria das pessoas treinam o oposto. Na maioria das atividades de sua vida, as pessoas agem de forma mecânica, fazendo por fazer, sem estar 100% envolvidas.


A psicologia positiva tem vários estudos que mencionam esta capacidade de envolvimento nas atividades que fazemos. O triste é que alguns fazem as coisas de forma tão distraída e mecânica que com o tempo perdem a capacidade de se envolverem quando precisam.


Assim, a pessoa de alto desempenho não chegou lá sem querer. Desenvolveu a capacidade de fazer fazendo. Sabe aquele conceito de “se é para fazer, vou fazer direito”?


Que tal praticarmos isso em tudo?

Se for para cozinhar, que seja para fazer um prato maravilhoso; se for para fazer ginástica, que seja para treinar dando tudo de mim; se for para fazer um projeto, que seja para entregar algo de alta qualidade; se for para cantar, que seja para que cada música seja um show por si mesma; se for para me encontrar com amigos, que seja para criar uma conexão ainda mais forte; se for para ser pai, que eu seja alguém que realmente faz diferença na vida de meus filhos.


Pense nos profissionais que você contrata ou nos serviços que recebe e observe quantos destes realmente entregam acima da média. Se fala muito de encantar o cliente, mas não se traduz este conceito na prática.


O conceito do overdeliver vem da frase “underpromise and overdeliver” (prometa de menos e entregue a mais). Infelizmente temos um mercado que parece ter desenvolvido o overpromise e underdeliver (prometa a mais e entregue de menos) – muito foco em marketing e barulho, para entregas deficientes.


Deixo aqui um conselho que sempre dou para profissionais jovens, mas que se aplica a todos: no fundo, não existe tanta competição assim no mercado de trabalho. Temos talvez competição em números de pessoas disputando vagas, mas pouca competição em termos de qualidade de entrega. Quer ter sucesso na empresa, nos negócios, no casamento, na família? Overdeliver.


Entregue acima da média. Se for fazer, faça direito, não faça de forma burocrática. Se envolva 100%, como se nada mais importasse. Tenha orgulho de entregar melhor do que a média e se incomode se a entrega foi apenas média. Nada mais perigoso para sua carreira do que normalizar o médio – se acostumar com uma entrega de qualquer jeito. Nada mais perigoso do que se tornar mais um, sem diferencial.


Nada mais triste do que um líder médio, que acha normal entregar apenas o suficiente e acaba se tornando um modelo para a equipe. Sem perceber, acaba contaminando a empresa inteira que, por sua vez, se torna mais uma no mercado. Pior, nesta cultura de entregar o médio, quem entrega acima da média pode até ser criticado! Surge assim a ditadura da média, onde não se espera muito de ninguém e quem entrega muito é visto como ameaça...


Até que surgem os Tony Bennetts da vida. Gente como Tony não são aplaudidos porque pedem por aplausos, mas porque se entregam ao máximo em cada música que cantam. Tony canta como se estivesse dando o último show de sua vida.


Ser ovacionado em pé é o mínimo que podemos oferecer a pessoas como ele, nós mortais perante esses deuses do Olimpo que, mais do que tudo, vêm nos ensinar posturas de vida.


E você? Como está cantando as canções de sua vida?


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